Conta-se uma anedota que ilustra o posicionamento de Pirro, na qual este, ao se deparar com seu mestre com a cabeça presa em um buraco de árvore, pondera por um momento, conclui que não há como saber se ajudá-lo seria algo bom e o deixa lá. Outros discípulos, após ajudar o mestre, censuram Pirro por sua inação. Contudo o próprio mestre toma partido de Pirro, enaltecendo sua coerência.
Tal extravagância intelectual não é exclusividade de pensadores ocidentais. Zhuangzi, considerado o maior expoente do taoismo depois de Laozi, uma vez sonhou que era uma borboleta e durante o sonho esqueceu completamente que era Zhuangzi. Ao acordar não sabia se Zhuangzi que sonhou que era uma borboleta ou se a borboleta estava a sonhar que era Zhuangzi.
Contudo, arrisco dizer que Zhuangzi nunca (in)agiria da mesma forma que Pirro na anedota acima. Oras, se o conhecimento é impossível, como dizia Pirro, então por que ponderar antes de agir (ou não agir)? Segundo seu próprio cepticismo, ele não teria como saber se ajudar o mestre seria algo de bom, mas também não teria como saber se não ajudar seria.
O taoismo de Zhuangzi foca-se na espontaneidade. Não haja conscientemente e viverás em paz com o Tao.
Já Pirro, segundo a anedota, parecia querer que suas ações fossem justificadas (ainda que acreditasse na impossibilidade disto) e, em caso de dúvida, agia segundo o princípio do mínimo esforço.
Claro que não precisamos ser tão cépticos quanto Pirro para duvidar que a anedota tenha de fato ocorrido. Talvez ela tenha sido apenas criada com o intuito de ilustrar sua filosofia. Mas eu fui espontâneo e não ponderei muito antes de iniciar minhas ponderações sobre o tema.
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